Talentos em Campo: Os Obstáculos Enfrentados por Jovens e Famílias no Caminho para o Futebol Profissional

Foto de Hikelmy Soares
feita pelo fotógrafo do time

Nascido em 21 de março de 2008, em Rondonópolis, Hikelmy Domingos Soares, de 15 anos, já tinha o futebol   presente na sua vida desde o seu nascimento, já que seu   nome foi escolhido por conta do jogador de futebol Juan   Román Riquelme, do Boca Juniors. O interesse por esse  esporte surgiu a partir de seu pai, que tinha o sonho de ser   jogador profissional e o levava desde muito pequeno para   assistir os jogos. Com ídolos como Neymar Jr e Lionel   Messi, Hikelmy começou a trilhar a sua carreira no futebol   desde seus 5 anos de idade, onde ingressou na escolinha   de futebol do União Esporte Clube de Rondonópolis – MT, para seguir o seu sonho. Foram muitos treinos, muitos   jogos, muitos campeonatos, mas nada o fez desistir do seu objetivo. Além da escolinha do União, Hikelmy também jogou na escolinha do Atlético Paranaense "Furacão". Em 2020 surgiu uma grande oportunidade para um teste no Sociedade Esportiva Palmeiras. E aos 11 anos ele partia para São Paulo com o seu pai, para fazer o teste que poderia mudar sua vida. Apesar de ter se saído muito bem no teste e ter sido convocado para a segunda fase, algo aconteceu para que esse sonho não fosse realizado naquele momento.

“Quando eu passei na primeira etapa do teste, o Coordenador do Palmeiras disse que era pra voltar depois de 2 meses, e quando voltei de viagem já fui para o treino de futsal e fui disputar uma jogada e acabei quebrando o braço e fiquei 3 meses parado. O Coordenador do Palmeiras ligou para os meus pais e eles falaram do acontecido e o Coordenador falou para eu voltar quando tivesse melhor. Eu já havia retirado o gesso do braço e fui e quebrei o braço novamente. O Coordenador ligou para saber como eu estava e meus pais falaram que eu tinha quebrando o braço de novo e com isso eu não iria fazer a segunda etapa do teste, porque a recuperação iria demorar.” Relatou Hikelmy.

Mesmo após toda essa situação, Hikelmy não desistiu do seu sonho e continuou arduamente em busca dele. E isso gerou um resultado muito rápido. No primeiro semestre de 2021 surgiu uma nova oportunidade, para um teste no Avai Futebol Clube em Florianópolis - SC. Hikelmy não imaginava, mas estava preste a começar a trilhar mais uma etapa de seu sonho.  E em maio de 2021, ele começou essa nova jornada que durou até dezembro do mesmo ano. Com a experiencia adquirida durante esses 7 meses, o mesmo conseguiu um teste no Figueirense Futebol Clube, também em Florianópolis. E nesse ele já conseguiu passar no primeiro teste, onde atualmente joga o campeonato catarinense sub-15. Ao ir para um novo estado trilhar sua carreira, Hikelmy teve que ir sem sua família, pois sua mãe não tinha como largar tudo para ir morar em outro estado. Mas independente da situação ela o apoiou, correu atrás e fez acontecer o sonho do seu filho. Rosenilda Maria Domingos (mãe do Hikelmy), buscou ajuda na escolinha antes de mandar o seu filho para um lugar totalmente desconhecido. A escolinha há ajudou nos tramites de onde ele iria morar, com quem ele iria morar e o mais importante deixou um canal de comunicação aberto com os pais.

Estudo x Sonho

A jornada de um jovem que sonha em se tornar um jogador profissional muitas vezes se depara com uma encruzilhada crucial: o equilíbrio entre o compromisso com os estudos e a busca incansável pelo sonho esportivo. Essa dicotomia coloca em destaque a importância de conciliar a paixão pelo futebol com uma base educacional sólida.

Em Conversar com o Professor de Educação Física e ex-Treinador de Futebol, Edson Lopes, o mesmo relata como incentivava os seus jogadores há focarem nos estudos: “Eu sempre falava que queria um jogador inteligente, porque se o futebol não te oferecer um caminho legal, porque é um jogo, o teu estudo vai te possibilitar ter uma qualificação. E ainda mais se você for bom de bola e se você tiver estudando, você vai ser um jogador que vai poder falar em inglês corretamente e outras línguas, conforme temos vários jogadores, como Kaka e Roberto Carlos, que domina duas ou três línguas. Então, referente a isso eu sempre batia na tecla, eu quero um jogador com qualidade técnica, mas também com qualidade intelectual.”

O estudo proporciona uma base sólida e versátil que ultrapassa as quatro linhas do campo, não apenas estimulando o desenvolvimento de habilidades cognitivas, mas também estabelecendo uma rede de segurança crucial para o futuro. Contudo, não se deve menosprezar o sonho de se tornar um jogador profissional, pois a paixão pelo esporte pode funcionar como um poderoso impulsionador para o crescimento pessoal e profissional.

Hikelmy também nos contou como os estudos são importantes em sua jornada: “Equilibrar os estudos e treinamento de futebol é desafiador, mas essencial. Para mim, priorizar a educação é fundamental, pois ela não apenas complementa minha jornada esportiva, mas também abre portas para oportunidades futuras, independente do meu desempenho.”

Dificuldades vividas pelas famílias e saúde emocional

“No dia 10 de maio de 2021, dia das mães, eu tive que deixar o Hikelmy na casa do treinador para ele ir para Florianópolis. Ele só tinha apenas 12 anos, e isso foi muito doloroso para mim, porque era uma criança que eu tinha o tempo todo ali e no dia das mães eu tinha tudo para estar com ele, e ele estava viajando. Foi difícil chegar em casa e ver que não tinha ele mais perto de mim, que eu não podia conversar e sem contar que eu estava mandando-o pra ficar com uma outra pessoa que eu nem conhecia.” Relatou Rosenilda sobre o dia que seu filho teve que ir morar em outro estado para seguir o sonho de ser jogador de futebol profissional.

Na busca pelo sonho de uma carreira no futebol profissional, os jovens talentosos não estão sozinhos em sua jornada. Atrás de cada chute, driblada e gol, existe uma rede de apoio fundamental: as suas famílias. No entanto, esse caminho não é isento de desafios, especialmente para as mães, pais e outros membros familiares que desempenham um papel crucial no suporte emocional, financeiro e logístico.

No caso em especifico conversamos com Rosenilda Maria Domingos, de 43 anos, Conferente II em uma empresa de logística e mãe do Hikelmy.  A mesma relata que de inicio teve uma reação de frustação ao saber que o filho queria ser jogador de futebol, por medo das coisas que poderiam acontecer, mas acima de tudo o apoiou, colocando o seu sonho em primeiro lugar. “Não é fácil, as vezes muitas crianças tem talento, mas não tem oportunidade, por os pais não terem condições de manterem elas fora. É muito difícil, porque, é chuteira, é comida, é roupa, é um gasto que tem hora que a gente não tem de onde tirar. Só quem é mãe de atleta que passa por isso e sabe as dificuldades.” Diz Rosenilda.

Além do receio previamente mencionado, um aspecto sensível nas trajetórias de mães e filhos em busca da carreira no futebol profissional é a questão financeira. É sabido que manter um filho com o nível de conforto desejado em outro estado representa um desafio considerável. As despesas associadas, como alojamento, alimentação, deslocamento e equipamentos esportivos, podem sobrecarregar as finanças familiares.

“Logo quando ele foi para Santa Catarina, eu tinha acabado de entrar em um emprego novo e a chuteira dele estragou e não tinha como jogar. Então um colega emprestou uma chuteira, porém a numeração era menor que a dele, e ele jogou um jogo com essa chuteira emprestada, que acabou machucando o pé. E mesmo com o pé machucado ele estava indo treinar. Eu como mãe vendo essa situação, partia o meu coração por não poder naquele momento oferecer o que o que o meu filho estava precisando, e ele entendia a situação que estávamos passando.” Relatou Rosenilda.

A jornada no mundo do futebol é uma montanha-russa emocional, repleta de altos e baixos que testam não apenas a habilidade atlética, mas também a resiliência mental e emocional dos jogadores. Durante essa trajetória, é crucial considerar o impacto significativo que os altos e baixos podem ter na saúde mental e emocional dos atletas.

Foto de Hikelmy Soares
feita pelo fotógrafo do time

Segundo Hikelmy é crucial manter o seu emocional e sua saúde mental durante todo esse processo, pois contribui diretamente para o seu bem estar geral. “Encaro momentos de dúvida e desânimo, como qualquer pessoa. Em tais momentos, recorro a estratégias como a prática regular de exercícios, meditação, conversas com a minha mãe e meu pai e meus familiares e amigos próximos ou profissionais do clube, e até mesmo a escrita para expressar meus sentimentos e ler a Bíblia. Além disso, procuro focar no lado positivo, aprendendo com as adversidades e buscando inspiração em histórias de superação. Aceitar que desafios são parte do processo me ajuda a enfrentar os momentos difíceis com resiliência e determinação.”

O caminho para o futebol profissional é uma jornada complexa, que exige não apenas habilidades físicas notáveis, mas também resiliência mental e apoio abrangente. Superar esses obstáculos não apenas molda atletas mais fortes, mas também indivíduos mais resilientes, preparados para enfrentar os desafios que a vida e o mundo do futebol podem apresentar.

 

Por Ingrid Soares