Por Luzia Moreira
Dirigido pelo cineasta e
roteirista Arnaldo Jabor, o documentário “Opinião pública” de 1967, importante
destacar que estavam em período de ditadura militar no Brasil, traz em seu eixo
personagens de classe média do Rio de Janeiro, que por sua vez discutiram em
seus depoimentos a respeito de diversas instancias sociais, como, política,
educação, religião, trabalho, direitos e cultura, presentes na esfera pública.
O filme se inicia levantando uma
discussão a respeito do futuro, que será pensada tanto em cunho pessoal, quanto
em relação ao futuro de todo o país. A conversa é suscitada a um grupo de
jovens estudantes universitários da classe média do Rio, estes que serão
agentes transformadores do futuro do país, alguns ironizam a questão, talvez
por conformidade, acreditando não ter poderio para realizar as mudanças
necessárias para a garantia de um país melhor, de liberdade e igualdade.
O narrador comenta como a
sociedade na época ligava juventude com revolta, e acreditava-se que estes não
se preocupavam com os conflitos experienciados pela sociedade, talvez por
exclui-los dessas discussões, descredibilizando seus posicionamentos por vê-los
como “crianças”, os jovens não se sentissem instigados a discutir as diversas
instancias sociais que afetavam a sociedade de tantos modos, “Para eles o
futuro é apenas um lugar onde vivem os adultos”, como expõe o narrador.
Esses jovens universitários
comentam ainda sobre a necessidade do dinheiro, e se imaginam na
responsabilidade de crescer e trabalhar em prol da pátria. É nítido que o
futuro, para esses jovens, não é nada otimista, visto que em seus dizeres eles
destacam alguns vocábulos que comparam a vida à luta e a guerra, logo é
possível refletir em que estímulos a sociedade deposita em esses jovens em
relação ao futuro, por isso há de se esperar que se sentissem expressamente
desmotivados. Embora enquanto festejam numa cena posterior, estes deixam
escapar uma vontade escondida, o desejo por liberdade.
Passada essas discussões, muito
se impressiona o rumo em que se segue este documentário, mesmo que o filme
discuta a opinião pública, incluir opiniões femininas é surpreende, pois por
muito tempo essas foram silenciadas, e seus posicionamentos considerados
irrelevantes em diversos períodos da história. Considerando ainda o cenário
político de ditadura militar no país, algumas mulheres foram ouvidas.
Neste momento algumas moças
comentam a respeito do amor, contando sobre uma disputa por um rapaz, já era de
se esperar uma discussão sobre homens, pois estavam em uma época em que
mulheres eram criadas e condicionadas a ter como finalidade de vida, o
matrimonio. Mas este era o instante em que para as mulheres havia grandes mudanças
ocorrendo, como a discussão a respeito do divórcio, aqui apresenta-se uma
mulher já separada na época conversando com jovens sobre as dificuldades do
casamento.
As mulheres deste período
relatam como a vida feminina é monótona, e que as mulheres são desligadas das
discussões quanto as questões sociais, por terem como único dever suas
obrigações com o lar e a família, as anulando como sujeitos sociais.
E então um novo assunto é
introduzido, a música, como ela é vista e apreciada, as vezes censurada, como é
capaz de mudar a vida das pessoas como o cantor Jair Alves de Souza que viu sua
vida se transformar, no meio social, financeiro e inclusive amoroso. No entanto
a carreira não é assim tão eufórica para uma cantora que conta como busca
sempre agradar ao público, e almeja vencer na vida honestamente, por meio de
sua arte, sem ser julgada pelo ambiente onde trabalha, uma boate.
O homem da classe média é
propriedade de alguém, introduz o narrador, ao apresentar cenas dos jovens
rapazes se alistando no exército brasileiro, já vistos como predestinados a
serem senhores importantes na sociedade, definidores da chamada “Opinião
Pública”, considerando que a opinião desses indivíduos possui peso maior ao
demais.
Surge então um universitário com
uma reflexão um tanto diferente dos demais, este não aceita os moldes que a
sociedade impõe sobre homens e mulheres, e tornam a sociedade sem perspectivas
de vida, sem personalidades, identidade. Entende-se a dificuldade de conquistar
significantes mudanças sociais a fim da felicidade do indivíduo, mas não a
define como impossível.
O trabalho é o ambiente em que
se costuma passar a maior parte do dia, manter um ambiente de trabalho
agradável é essencial para a melhoria da produtividade e da saúde mental dos
funcionários. Mas se atualmente essas discussões ainda se reverberam e são
difíceis de serem solucionadas, já é de se esperar que na época em que o
documentário foi produzido por Jabor, as situações eram ainda mais complicadas.
No filme, funcionários de uma empresa dialogam sobre os impasses para subir na
instituição, enquanto alguns são beneficiados apenas por sua posição social, e
não capacitação.
Um dos chefes dessa instituição
diz em seu depoimento que é necessário que o ambiente de trabalho seja rígido e
disciplinar, a fim de manter a ordem, e que o “Brilhantismo intelectual” se
restringe apenas aos supervisores. Mantendo os funcionários no caminho da
“ignorância” não correm riscos de que estes percebam seu real valor e poder
para transformar a realidade, um discurso tão atual.
Por fim, uma discussão que não
poderia ser deixada de lado em meio as instancias sociais dialogadas no
documentário entra em cena, a religião, existem inúmeras religiões, que atingem
acertadamente o posicionamento da sociedade. O narrador concluí que o
misticismo é a solução final para uma situação social incompreensível, as
pessoas acreditam então, numa compensação por toda a luta passada em vida,
depositando tudo na esperança por dias melhores.
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