segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Maria Sete Voltas: um marco para Rondonópolis

 


A escultura criada em 2000, pelo artista plástico Armando Nunes Filho local da cidade de Rondonópolis, conhecido como Mando Nunes, situada no encontro das Av. Fernando Correia da Costa e Presidente Médici, diverge opiniões se deveria estar ali ou não, por entre várias questões seu nível de futilidade, isso porque na obra, o artista representou a figura de uma mulher sentada com as pernas abertas e colorida como um mosaico. O monumento foi criado para homenagear Maria Sete Voltas, uma mulher que viveu em Rondonópolis nos anos de 1965 a 1991, com bastante cor assim como Maria, que se vestia com várias estampas e tecidos. Uma verdadeira obra prima, mulher de grande busto e cintura marcada, sentada de perna aberta despretensiosamente. Maria não se importava, se portava em forma de escracho. 

A obra criada conta com traços cubistas e para quem conhece a história da homenageada garante que o artista a representou com brilhantismo, ele afirma em vários momentos que, enquanto estava escupindo a obra, projetou toda beleza, euforia, alegria que Sete Voltas deixou para a cidade rondonopolitana. E mais, que idealizou toda intensidade e polemica que aquela mulher exalava, tentamos contato com o homenageador, mas infelizmente não conseguimos um retorno, até o final dessa produção. A escultura não é só sobre Maria, mas sim sobre o poder e o domínio que uma mulher tem e deveria ter. Tentamos contato com o criador para entender a sua intenção a fundo, além de resquícios que conseguimos na internet mas até o final dessa reportagem não obtivemos retorno.

 Em conversa com dona Maria Victor, moradora de Rondonópolis a mais de 50 anos, ela nos conta que conheceu Maria Sete Voltas lavando roupa a beira do Rio Vermelho, na época ela era Jovem e tinha dois filhos, Marcia e Marcos, a menina já andava, mas o garoto era de colo. Victor pouco conversava com Maria, pois seu marido era um homem ruim e não queria que elas tivessem amizade, para ele, mulher do lar não podia ser próxima de “rapariga”. Em seu relato, ela também nos conta que: 

“Maria não proseava com todo mundo, ela parecia uma mulher que sentia o santo dozoto, tipo aquelas cartomante!? Eu até que gostava dela. Ela era bonita, usava um monte de adorno e roupa colorida. Eu coitada, economizava comer no almoço pra não passar fome na janta. Meu marido era ruim! Eu era pobre, ele não... Era dono de olaria, fazia eu trabalhar pra ele, pra eu poder comer. Quando eu tava lá lavando roupa na beira do rio, e a Maria estava lá, eu ficava espiando ela de longe, no começo ela achava que eu queria briga com ela, mulher arredia, mas na verdade eu admirava ela. Me lembro que ela era doida, dava gargalhada alta, lembrava uma bruxa, dava um trem nela, ficava peladinha da silva na frente de todo mundo, banhava naquela água misturada com barro vermelho e não estava nem ai.”

E porque falar dela é algo tão complexo e delicado, como se fosse proibido mencioná-la, tornando algo que tem de ser sussurrado pelos cantos, com fatos entrecortados. Nos deixando a mercê de respostas, o que é verdade, o que é mentira? Você que tende a formar sua opinião. 

Ao mesmo tempo, em uma linha tênue, conseguimos um prisma totalmente promissor, onde uma figura autêntica, com suas roupas, maquiagens, bijuterias, jeitos, empoderam outras mulheres, inclusive duas acadêmicas de jornalismo a escrever sobre a mesma, além de Valter Arantes, um fotografo local que publicou ‘Maria Sete Volta” em 2007, baseado em fatos reais, além do artista que criou a estátua. 

Com uma história intrigante para todos, Maria Sete volta, veio para a cidade depois de ser “expulsa” de sua cidade natal, Guiratinga, que fica a 111,4 km de nós, por ser descoberta traindo seu amante, o coronel da cidade, e aqui ficou até sua morte. Quando chegou, ficou rodando umas vezes por estar perdida, isso, além de ser conhecida por toda sua existência andar muito, imagina-se que surgiu aí seu vulgo, hoje faz parte da cidade, com seu símbolo sendo homenageado. 

Falar dela é assim, um divisor de opiniões, uma oscilação de ideias positivas e negativas. O provável único pensamento unanime é sobre sua loucura, esse adjetivo aparece mais de uma vez em entrevistas realizadas, uma das fontes afirmou que ela tinha esquizofrenia e vivia como vivia por isso, um surto nunca controlado, já outro entrevistado disse: 

"Sua loucura gerava medo em alguns e pena em outros. E foi atrás dessa loucura que ela se escondeu para viver como bem queria”, será? Se uma pessoa era chamada de piruá por se vestir, porque não seria chamada de louca pelo jeito live de dirigir a vida? Não é sempre assim, alguém a frente do seu tempo é criticada e fato é que ela era comentada, mesmo que de forma negativa “ – amante do prefeito.” “ – figura folclórica.” “bruxa.”

Maria Victor hoje em dia é uma senhora de 72 anos, e com a covid-19 ficou sequelada perdendo um pouco da memória e se sentindo cansada durante a entrevista, mas ela se lembra de outra situação marcante com Maria Sete Voltas. 

“Quando eu me mudei para o Pindorama, era um bairro feiozinho, nem passava ônibus direito, e eu tadinha, nem dinheiro tinha pra pegar ele. Eu trabalhava com uma amiga minha, Pedrina, na escola Adventista. Quando eu tava voltando pra casa, cansada menina, a Maria tava batendo perna com dois balde de água, um na cabeça e outro no braço lá perto de casa, e tinha bastante criança na beira da rua, era de tardezinha. Meu filho Marcos pegou um torrão de terra e jogou na coitada. Derrubou o balde dela do braço, se aquele menino não tivesse corrido, a Maria ia esganar ele. Ela não gostava muito de criança. As vezes era porque os pais ficava infernizando a cabeça deles pra maltratar a Maria também...”

Maria era uma pessoa de opinião, gênio forte e muito bem resolvida com a forma em que vivia, com certeza se ela estivesse viva nos tempos de hoje, provável ficar famosa pelas mídias. Estudando a história de Maria Sete Voltas facilmente ela pode ser comparada com Ângela Diniz. 

Ângela, também conhecida como Pantera de Minas, ficou famosa por ser estampa de várias colunas sociais da década de 90 por estampar beleza e luxo. Seus dias de vida foram irradiados de polemicas acompanhada pela mídia brasileira. O cotidiano da Pantera foi regado de festa milionárias, álcool, cigarro e intensos romances. Em 1976 Ângela ganhou exclusividade nas capas de jornais de todo o Brasil, após seu namorado Doca a assassinar com 4 tiros, sendo um em seu rosto. 

Ambas as mulheres exuberantes, que despertava a curiosidade por onde passavam e causavam um alvoroço em lugares que frequentavam. Assim como Ângela, Maria gostava de beber e frequentar festas, se envolvia em romances intensos com vários homens, mas, felizmente Maria não teve o mesmo fim que Ângela Diniz. 

Os últimos relatos que tivemos de Maria Sete Volta antes de sua morte, foi em seu aniversário de 78 anos na década de 90. Maria passou seus últimos dias de vida sendo cuidada no Lar dos Idosos aqui a cidade de Rondonópolis. A festa foi feita por amigos que Maria tinha ali no lar e por funcionais do local. Esta mulher deixou um grande legado aqui em nossa cidade. Apesar de pouco conhecida atualmente, e por nunca ter externalizado ou tido vínculo maior, infelizmente não sabemos sobre a sua arvore genealógica e se poça ter deixado algum ente querido.


 

 


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